Friday, December 28, 2007

natal

oiço a música a vibrar na minha mente
música real
a lareira, o cheiro, o calor, tudo me faz sentir que estamos no Natal
e é tarde, e as crianças estão acordadas porque querem gozar o que receberam, porque nos querem gozar, porque nós as queremos gozar
não os oiço, apenas oiço a música
e a música acompanha a imagem do meu pai com o bebé ao colo a dobrar e a esticar as pernas nas suas pernas, a tentar firmar o passo sem dar o passo, e os dois a rirem
acompanha a imagem do meu irmão a olhar para o livro sem interesse daqueles livros de piadas ou frases feitas que nunca compraríamos mas que na noite de Natal lemos porque são mais um presente
e a música acompanha a minha pequena família, a de lá de casa, os dois a montarem um brinquedo novo, os legos, a construção
e as crianças no chão de barriga para baixo, de pernas cruzadas, descalços porque estão na sua casa que é a dos avós
e o calor, a luz, a família
o Natal
e as lágrimas nascem e escorrem pela minha cara
porque é um daqueles momentos únicos, que sei que um dia não se vai repetir
em que me sinto feliz.

Thursday, December 6, 2007

para ti

gosto de ti
gosto da simplicidade com que falas, da tua dimensão tão humana
gosto do que representas
do teu lado maternal tão apurado, da tua amizade tão pura
gosto mesmo de ti
da tua voz, da tua cabeça, do teu espírito
és mais forte, mais sólida, do que imaginas
és justa, és doce
és honesta contigo e com os outros
és sempre "uma lufada de ar fresco"
gosto mesmo muito de ti...

obrigada por esta amizade
conta sempre comigo
para tudo.

Wednesday, December 5, 2007

promessa de vida

...pois quem se mete nessas coisas que são muito maiores do que nós sujeita-se humildemente a destinos que não controlamos

foi uma promessa que não se cumpriu. mais uma.
mas dentro da tristeza que a ausencia da alegria provocou as palavras de amizade foram maiores, foram surpresas cheias de cor, cheias de força
e percebi que a promessa gerou vida, porque vida é qualquer coisa que nos ultrapassa, porque para mim vida nem sempre é fisico, nem sempre é literal
vida é o que sentimos
e nestes últimos dias descobri sensações, encontrei reconciliações,
e a promessa de vida que não se cumpriu deixou-me uma recordação boa, grande de paz.

Saturday, November 17, 2007

just like heaven

http://www.youtube.com/watch?v=ORc5Td_T6og

convicção

quando escrevo transformo-me
transformo os meus pensamentos em convicções espontâneas
(porque fica escrito)
se falasse não passavam de opiniões

gosto de sentir que me vou criando, que me vou construindo enquanto escrevo, com o que escrevo
gosto de mostrar o que sou quando a minha voz não se ouve
ou quando quero realmente ser ouvida
por isso digo o que me atravessa, que me mata, que me ressuscita, o que me mantem tão inteiramente viva

hoje sou convictamente feliz


Thursday, November 15, 2007

dias

os dias passam
os dias não passam sem passar por nós a lembrança terrível do vazio que ficou
o vazio deixado sobrepõe-se a tudo o que existiu, chego a perguntar para quê que existiu?
tudo é passagem
porquê?
a palavra que vibra na minha cabeça, que me provoca dores de mim própria, pelos outros, por todos, por elas
tento responder e a voz de dentro não chega ao cérebro, fico afónica de sentido
triste

os dias passam
e o que passou fica connosco, para sempre.



Friday, November 2, 2007

desilusão

Não achei possível levar mais um soco na barriga depois de tudo o que nos tem acontecido este ano.
Mas levei, bem fundo, bem forte, de uma violência radical
E a mão que me deu o soco.
Uma mão misturada de intuições muito más com certezas muito boas.
As intuições más confirmaram-se certezas terríveis e tudo o que de bom havia desapareceu, fez-se pó, ar envenenado que quero ver longe, bem longe de mim, e dos que me são queridos.

O meu tempo de inocência chegou ao fim.
Mas abriu-se uma janela de esperança, descobriram-se caras por trás de máscaras.
E apesar de tudo continuo a acreditar no bom, no bem, no certo e na justiça humana.

Tuesday, October 30, 2007

marialice

quando escrevia à minha avó, escrevia à marialice
um dia disseram-me que o nome não era pegado, que marialice eram duas palavras mas até hoje para mim é só uma, seguida, fluída, marialice
foi uma despedida bonita, com dignidade e muito respeito
a marialice era uma pessoa muito querida, que merecia tudo o que teve e muito mais do que o que às vezes até estava ao nosso alcance
na despedida da marialice descobri coisas em comum nas minhas lembranças
que lembro a minha avó vera a sorrir com uma cara bochechuda e uns óculos enormes, que só me lembro do meu avô a rir gozão, da avó conchinha doce a sorrir, que não consigo esquecer os olhos da Catarina a dar uma gargalhada, e aquele sorriso enorme do John
a marialice, vejo-a sempre a dizer graças, com aquele tão seu sentido de humor
nestes tempos estranhos tenho descoberto muitas coisas, e naquele derradeiro momento descobri esta coisa dos sorrisos
infelizmente na vida não há "undo"
por isso vou sorrindo
vou procurando fazer os outros rir mesmo quando não lhes apeteça
quero lembrar sempre o sorriso de quem parte
e já agora, que se lembrem sempre do meu

Tuesday, October 9, 2007

nothing is good enough

for people like you
what are you looking for?

what am i looking for?

Tuesday, September 25, 2007

bocadinho

só "dinho" diz-me
diz-me só "dinho" e sabe que aquele bocadinho de palavra me quebra
mãe posso dormir de olhos abertos?
penso
que ideia,
se em vez de dormir dissesse sonhar eu dizia-lhe que sim
disse-lhe que sim
que tentasse
e depois de uma pausa
ele fechou os olhos
só "dinho"

até de manhã.

Thursday, September 13, 2007

palavra medonha

Medo é uma palavra medonha. Medo é a pior coisa que podemos sentir enquanto vamos vivendo uma vida às vezes pouco sentida e sem sentido.
No outro dia, alguém com menos de um metro e meio me dizia: Tia, tenho medo de morrer. Que bom minha querida teres medo de morrer (não lhe disse) (mas pensei), ter medo de viver é aterrorizador, ter medo de morrer é natural. É tão natural como gostar de estar ao lado dos que amamos, é tão natural como gostar de beber coca-cola, se gostamos de coca-cola, claro. É tão natural, que com a idade deixamos de nos assustar com isso e esse medo deixa de ser medo, passa a ser uma assombração que de vez em quando volta, uma nuvem que se vai, se abanarmos a cabeça com força, com vontade.
Ter medo de viver é sinal de sofrimento.
Não querer morrer é sinal de que amamos a vida.
Mas depois disse-lhe: não deves ter medo de nada minha querida, o medo é uma palavra medonha e não nos leva a lado nenhum. Quando tiveres medo pensa numa coisa boa disse-lhe a mãe. Boa... então vou pensar em comida.
Que bom as crianças não se lembrarem de ter medo de crescer.

Monday, August 6, 2007

aos crescidos que choram

Os crescidos também choram. Mas o choro de criança é muito melhor (diz o adulto). O choro de criança é quase sempre curto, superficial, fútil. Não é verdade (diz a criança), quando choramos sentimos que o mundo vai acabar ali. Mas rapidamente se calam, basta um beijnho, um consolo, uma compensação (diz o adulto). Não é verdade, às vezes choramos porque temos uma dor e não conseguimos explicar, e às vezes choramos muito e os crescidos não entendem (diz a criança).

"Os crescidos não entendem". Mas as crianças aceitam os adultos. O que é um paradoxo, já que os adultos já foram crianças e as crianças ainda não chegaram a adultos.
Às vezes parece que há uma espécie de sabedoria pura e simples que se vai perdendo com a idade.

Lembro-me da primeira vez que vi a minha mãe chorar. Fiquei desconcertada, acho que, porque já não era tão criança. Se fosse, aceitava de outra forma. Pensava que não lhe tinham dado qualquer coisa de que gostava, ou que se tinha magoado no pé, ou que tinha sido picada por uma abelha. É traumático ver uma mãe ou um pai a chorar pela primeira vez quando já somos menos crianças. Acho que interpretamos a sua dor de outra forma, e nunca a conseguimos entender.

A minha mãe chorou porque com certeza chorava muitas vezes longe de nós desde que tinha perdido a mãe dela. Naquele dia irritou-se, justamente depois do meu pai lhe oferecer um ramo de flores (ainda mais desconcertante para mim), e chorou com força e convicção à nossa frente.

Os crescidos choram por coisas diferentes (diz a criança), e só choram quando estão muito, muito tristes. É verdade. Mas às vezes essa tristeza domina-nos e esquecemos aquela sabedoria de criança que nos ajudava a secar as lágrimas mesmo quando doía, mesmo quando nos sentíamos igualmente tristes.

Não choro à frente do meu filho. Sou incapaz. Porque acho que assim o protejo. De quê? Das tristezas que nos invadem? Das fraquezas que todos temos?
Às vezes questiono se não seria bom ele ver de vez em quando uma lágrima ou outra na minha cara, e entender desde cedo a dimensão humana da sua mãe.

Para que esteja mais preparado para me ver, um dia qualquer, a chorar (com força e convicção!)

Wednesday, July 25, 2007

elas

era assim que falavas, elas eram elas, as tuas mais queridas amigas, companheiras, um pouco de ti e do Antonio, o teu amor infantil, antigo e dorido
elas precisam, elas vão estar, vou buscar "elas", elas estão à minha espera

elas estão à minha espera, estão a rir com o riso do primo, estão a regar as plantas lá de casa, estão a pensar na tarde simples que vão passar, na noite que vão dormir, nas camas improvisadas que enchem o quarto do ZM, nos brinquedos pequeninos e divertidos, playmobil do tio zé, legos antigos
elas jogam à bola e riem, riem alto, o riso de criança feliz
elas são preciosas como é precioso cada membro que temos, elas são boas puras bonitas
"tia já me comprou o presente de anos?" perguntam-me a mim em vez de a ti (marta, isso não se pergunta, dirias) mas não estás cá para dizer, e por ti, elas já não podem esperar, de ti lembram a beleza do amor que lhes deste, talvez lembrem o teu cheiro, os teus olhos
esse teu amor que faz parte delas, do que elas são
a ana olha para o céu e diz a um tio muito querido: tio, está ali a minha mãe, é aquela estrela, a mais brilhante de todas, e está a olhar por nós
tenho que ir, tenho que as abraçar como se fosses tu que chegasses, e fazê-las rir
espero chegar sempre.

Wednesday, July 18, 2007

Leonor

Lembro-me de uma troca de emails acerca da Madalena quando ela ainda estava na tua barriga. Uma troca de emails que nos aproximou depois da primeira, única e eespero última briga que alguma vez tive com uma grande amiga. Eu tentei consolar-te. Tu estavas assustada com a notícia.

Contigo foi sempre assim, os teus dois mais preciosos tesouros apanharam-te de surpresa. Dizem que as melhores coisas na vida acontecem quando menos esperamos. Tu, os teus filhos, são prova disso. Passaram-se já cinco anos. E a Madalena cresceu com um equilíbrio extraordinario, e tu cresceste com ela. Tornaste-te ainda melhor, ainda maior, ainda mais forte. A tua amizade é incondicional, total, dedicada. A lealdade é para ti um princípio de vida. Lealdade sempre com um enorme sentido de justiça por trás. Por isso és Grande. E eu adoro-te todos os dias. Preciso de ti todos os dias. Fazes parte da minha história, da minha vida..

Parabéns pela Madalena. Obrigada por tudo (e tu sabes o que "tudo" significa).
Vamos estar sempre juntas.

Monday, July 16, 2007

erguer

É preciso saber erguer os braços e arrancar a nuvem que se atravessa e entra pela nossa cabeça.
É preciso ter força para dizer não, não me vou deixar controlar por uma tristeza que me mata e que mata todos os dias os que me rodeiam.
É preciso acordar e conseguir não esboçar um sorriso mas em vez disso soltar uma gargalhada barulhenta, acordar os vizinhos, o marido, o cão e o filho e saber gritar, "a vida pode ser boa". A vida pode ser boa? Que bom saber que há pessoas para quem a vida é boa.
O meu filho é feliz, ele diz a toda a gente que é feliz. Para ele é tão simples ser feliz.
Tenho inveja daquela felicidade, tenho inveja do tempo de há um ano atrás, um tempo ingénuo, um tempo sem brutalidades, sem descobertas feias, sem encontros "sangrentos".
E no meio disto tudo, destes turbilhões, destas desilusões com pessoas que fingem que são o que esperam que os outros encontrem nelas, no meio disto tudo, o meu coração enche-se de esperança, força e até mesmo alegria, naquele pequeno momento em que oiço o meu filho dizer que é feliz.

Monday, July 9, 2007

john

when I first saw maria, I knew she was the girl of my dreams

perdemos-te depois de tão breve e tão profunda passagem pelas nossas vidas. perdemos-te já sem forças para perder o que quer que fosse, já sem força para te chorar com todas as forças que merecias. perdemos-te sem ninguém nos perguntar se podia ser, se abdicávamos de ti. NÃO, NÃO ABDICAMOS, apetece-me dizer. NÃO, PRECISAMOS DA TUA VIDA. precisamos dos teus abraços, da tua presença tão física, dos teus olhos transparente e bons que acreditavam que tudo ia ficar "allright". até quando?
precisamos da tua vida, repito baixinho.
adormeceste nos braços da mulher que amavas. acredito que não sofreste a antecipação da desgraça que vinha a seguir. imaginar a maria sem ti era estupido. a maria és tu. tu és a maria.
mas ninguém nos ouviu, e tu que eras vida partiste. e deixaste-nos vazios, com um buraco que ocupa o nosso corpo por inteiro. tu que eras alegria levaste a nossa contigo.
até quando?

Monday, July 2, 2007

escada sem corrimão

Há quem fique a meio da escada. Pergunto-te - o que está no fim? Caminhamos para o sol, mas nunca passamos do chão.
A escada parece curta para uns. Mas enganam-se. A escada é grande, difícil mas pode ser muito feliz. Chega mesmo a rir-se connosco. A rir-se dos nossos tropeções. Dos nossos desenganos. Das nossas pequenas vitórias tão relativas. Pergunto-te - a escada também chora? Chora quando desistimos. Chora quando em vez de subirmos, descemos.
A escada não tem corrimão para aprendermos que não é fácil. E às vezes temos que segurar nos outros, os que precisam de apoio para subir. Os mais fracos atraiçoados pela falta de vontade, os mais velhos atraiçoados pela idade que lhes dificulta todos os movimentos. Pergunto-te - a escada é de que cor? A escada é amarela para os que a sobem a correr. Azul para os que a sobem com serenidade. Pode ser encarnada para os que a sobem com paixão. Chega a ser preta para os que a sobem tristes e sombrios. É certamente branca para os que levam um encontrão, se desequilibram, e sem vontade, sem necessidade, caem cedo demais.
A escada é boa. Os seus degraus é que às vezes são difíceis.

Saturday, May 19, 2007

o bigos

Bigos é um nome inventado pelo teu pai. O teu pai sempre gostou de inventar palavras novas e construir um dicionario paralelo ao nosso.
Geralmente as crianças são o público-alvo do seu projecto. Na sua inocente aprendizagem aceitam sem questionar que aquela palavra tem um significado. E graças ao teu pai, pelo menos 100 palavras novas passaram a existir. O que bigos quer dizer nós sabemos. Não dá para explicar. Bigos és tu e pronto.

Viajei pela 3ª vez para longe sem ti. E por isso pela 3ª vez rezei não sei quantas avé-marias antes do avião levantar. Pela 3ª vez esqueci-me de rezar no momento da aterragem, talvez porque irracionalmente não me meta medo e já me sinta tão perto do chão que nada me assuste.
Desde que fui mãe o medo mudou de cara. Talvez peça ao teu pai para lhe dar outro nome, parece-me que um sinónimo não será suficiente para descrever a nova cara do medo.
Tu é que importas. Eu importo na medida em que te sou importante.
O que não quer dizer que tenha desistido do resto, de tudo o que não tenha a ver contigo.
Pelo contrário. Agora que tu existes faz ainda mais sentido investir em tudo o resto. Para que tenhas uma mãe mais feliz e mais experiente... Como vês tu é que importas.
Bigos, o nosso mais querido.
Se estás doente a vida segue diferente. Se choras o meu coração fica mais vazio. Se te magoas doi-me por dentro. Mas quando te ris fazes-me completa, plenamente feliz. E quando me abraças sinto o amor profundo que nos envolve. Consigo tocar-lhe.
Um dia vais crescer e vais conseguir entender estas palavras.
E vais misturar as do pai com as outras.
Mas as do pai, essas, vão ter sempre outro sabor.

Monday, May 7, 2007

vera

Gosto da tua alegria, aliás preciso dela. Quando falamos dos amigos a palavra "gostar" não cabe na alma. É como quando abraçamos os nossos filhos de amor e o aperto que lhe damos não é suficiente. O amor é sempre maior, e a amizade, se é amizade é grandiosa. Por isso repito, Amo a tua alegria. A tua alegria do viver e do estar. Por isso ao teu lado dificilmente me sinto pequena ou triste. Ao teu lado somos grandes, bonitos e fortes. Porque os teus olhos assim percorrem a paisagem que se lhes atravessa. Os teus olhos felizes, espertos, e tão amigos.
Preciso dessa alegria que amo. Preciso de ti e de poucas pessoas que para mim são as maiores, as melhores. Com quem estou sem precisar de falar. Nesse silêncio sempre tão cheio.
Fizeste 33 anos. Idade tão curta e já tão cheia. Por isso especial.
És bonita, e vives intensamente feliz. És mãe. Partilho a tua alegria com muita força.
Parabéns por tudo. Obrigada por tudo.
Contigo vai ser sempre assim.

Saturday, May 5, 2007

ausência

Vivo a pensar em ti.
Preciso de respostas, preciso de respostas, preciso de respostas.
Vivo agora com o teu terço colorido no bolso e vivo contigo ainda mais intensamente.
Porquê, Catarina? Porquê? Porquê?
Que desespero teres ido assim. Dói, maltrata, ofende.
Como tu dizias, daquela última vez "estou com uma dor tão grande, tão profunda, que não consigo explicar"
Estamos todos, os teus todos queridos, assim.
Todos doridos por dentro, e tão profundamente, que não conseguimos explicar
Estás mesmo aí? Olhas mesmo por nós? Transformaste-te uma estrela que consegue sentir o que sentimos? Sorrir quando sorrimos? Conseguirás ainda cheirar o mar, ou tocar o vento?
E as tuas filhas? Sentes a sua dor que é a de nós todos?
Sentes saudades nossas, minha querida?
Já não te podemos abraçar.
Viverei sempre contigo.

a tua casa

(ao som de erik satie)
A areia estava gelada e as ondas do mar ouviam-se no seu bater furioso e barulhento. Angustiada por estar só. O vento estava ameno e contrariava o dia escuro e triste.
Vi a tua casa ao fundo e apeteceu-me aproximar-me na certeza que te encontraria. Caminhei devagar e todos os momentos que partilhámos se atravessaram no meu caminho. Sentia que cada vez me afastava mais na convicção de te encontrar. Eram tantas lembranças para uma tão curta distância.
Cheguei e espreitei. Tu estavas de costas, vestida de branco e abraçavas as tuas três filhas. Chamei-te e não me ouviste. Gritei por ti. Olhaste para fora indiferente, a sorrir. Que saudades desse teu sorriso grande e feliz. Que saudades de te ver agarrada às tuas filhas. Que saudades da tua imagem viva e serena. Da tua expressão.
Comecei a recuar sem querer recuar. E houve um momento em que percebi que a música chegava ao fim e que o sonho ia ser interrompido. Preferi voltar para onde estava e guardar na minha memória a tua imagem.

Wednesday, April 18, 2007

encanto

Porque é que me encantas?
Porque é que à tua passagem o mundo ganha uma cor diferente e o chão passa a ser seguro? Porque é que me acompanhas mesmo nas tristezas sem fundo e sem sentido? Porque é que me persegues num tempo que corre atrás de nós e que não nos deixa espaço para viver o simples? Porque é que me vives com essa intensidade só tua que me faz ver e encontrar todos os movimentos e palavras que interessam. Porque é que me deixas absolutamente estática com a tua voz de homem-criança que sonha com uma vida fora desta vida?
Porque é que fico sem respirar perante o pensamento único e balançado de ideias alegres e profundas?
Porque é que me encantas mesmo quando me sinto desencantada?

Porque não sei fazer de outra maneira.

Saturday, April 14, 2007

descorrer

Descorrer é correr para trás.
É ir contra o tempo e a vida. É ver as palavras ao contrario e o mundo de pernas para o ar. Descorrer é sentar, sentir, e voar para longe, para um tempo sem tempo, onde o tempo pára.
Descorrer é olhar de baixo para cima. É ver no negativo positivo e no preto branco.
Descorrer é o contrario de tudo e por isso é também o contrario de nada. Porque o nada faz parte de tudo.
Descorrer é olhar de fora para o que se vive por dentro, é ser por um momento espectador de nós próprios. É ver a paisagem fixa enquanto corremos. É poder estar onde não estivemos. É poder repetir o que achámos único.
Descorrer é viajar no tempo.
É acreditar que os ponteiros do relógio podem andar ao contrario.

Thursday, April 12, 2007

dois

Passaram dois meses
Para mim passaram dois meses e sete dias; dois meses e sete dias sem te ver ou ouvir; sem te sentir viva.
Passaram dois meses e é impressionante como tudo está aparentemente normal. A ordem devia ser desordem. O caos devia estar instalado. Devíamos chorar todos os dias a tua ausência.
Mas em vez disso conseguimos estar dois minutos sem pensar em ti. Conseguimos rir. Conseguimos andar. Conseguimos concretizar.
Que força é esta que se instala em nós? Que força é esta que não nos permite morrer contigo?
As coisas estão diferentes mas são as mesmas.
Passaram-se os primeiros dois meses de tantos que irão passar sem ti.
"... e a vida continua a rolar".

Friday, March 23, 2007

Catarina

Hoje precisava de escrever para ti.
Como escrevi tantas vezes a falar de coisas simples.
A diferença é que hoje a tua resposta, se existir, chegará a mim de outra forma, não através de palavras.
Acredito que nos vês. Acredito que cada vez que abraço e beijo as tuas filhas, tu sorris encantada. Com aquele sorriso teu que não me sai da cabeça.
Estou a chorar pela tua ausência física. Só física. Porque a tua parte espiritual estará sempre comigo.
Catarina, a vida toda vou exaltar a tua memória. E falar sempre com alegria sobre ti às tuas filhas.
Para que estejas sempre connosco enquanto estivermos separadas por mundos diferentes.
E um dia espero encontrar-te e dar-te um abraço forte como aquele que trocámos no último dia que te vi.
"Vai passar"
e tu sorrias triste e dizias
"...querida"
Hoje falta-me a tua voz.

Tuesday, March 20, 2007

hoje

Hoje resolvi criar um blog.
Talvez infuenciada por pessoas que criaram blogs que todos os dias visito com um enorme prazer.

Este blog é para partilhar sensações e emoções. É para discutir. É para fazer rir e chorar. Sobretudo para que as palavras permitam manter vivo o que já passou.
até breve