Saturday, November 8, 2008

zd

perante a perspectiva de uma vida sem ti tenho a certeza do quanto te amo

Monday, October 13, 2008

the others

os outros são os nossos, os queridos, os que lamentamos, os que desapareceram
são os outros como se estivessem numa espécie de grupo à parte
nós e os outros
mas há tantos nós diferentes de mim e há tantos outros a fazer parte do que sou
os outros que estão não sei onde, que não consigo ver
para quem não consigo falar
só lembrar (e lembrar é tão pouco)
e sofro, sofro, sofro de saudade
dos cheiros, das expressões, dos sorrisos
e sofro porque me faltam esses sorrisos todos, um amontoado de sorrisos desaparecidos
e agora que estou tão quente com duas vidas em mim
sofro por estarem longe, frios, os outros, que já me aqueceram as mãos e o coração
os outros e nós.

Wednesday, October 8, 2008

tu

Contigo aprendi que as relações humanas são tudo menos lineares. Que podemos sentir o que não queremos mas que devemos querer só se sentimos.
Aprendi a dar valor ao que tenho, e que mesmo os mais honestos podem não se arrepender de um acto menos honesto.
Aprendi que a verdade é a essência.

Thursday, October 2, 2008

the end

Vêm-me à cabeça aquelas letras dos filmes antigos a finalizar a história que com alívio ou tristeza assim vemos que se acabou. The End. Letras brancas rebuscadas, desenhadas, sobre o fundo preto a indicar o fim de qualquer coisa e o princípio de outra coisa qualquer.
The End. E a história acaba. Forte ou fraca. Mal vivida ou bem vivida. The End. The End. E ficam imagens, cheiros, sensações. E custa acreditar no fim. Custa muito acreditar no fim. Mesmo quando é a úncia solução. Mesmo quando queremos que termine. The End. E se a história foi boa fica o amargo, a ausencia. The End. E o vazio. The End.

maniqueismo

Ser puro é ser ingénuo?
Ser puro é ser genuinamente puro. Se não se é genuino na pureza é-se a pior espécie de mentiroso.

Ainda acredito na pureza pura de algumas pessoas. Algumas, muito poucas. Que levam chapadas por todos os lados mas acreditam sempre no melhor de cada um. Não são parvas nem totós, são bondosas.
E dão sempre o melhor a cada um
.
Hoje apetece-me dar beijinhos a essas pessoas, abraçá-las com força, agradecer-lhes por existirem, pela esperança, por garantirem que nem tudo está perdido.
Por serem capazes de ser amigas, fieis, generosas, boas.

Infelizmente eu não consigo acreditar no melhor quando alguém faz o pior.
Pura e simplesmente deixei de conseguir. Virei-me do avesso, tornei-me maniqueísta, arrogantemente desapreciadora da má conduta de alguns que me rodeiam.
E acredito mesmo, de uma forma primária e infantil, que há pessoas mesmo más como aquelas personagens de ficção que nos deixam o estômago às voltas e mais voltas de revolta e mais revolta.

Por que caminho andamos?
Por que caminham tantos assim vazios, falidos de sentido, de alma, de amor?

Onde é que nos poderemos encontrar?
Sinto um grande vazio nos outros.
Que não me toque, que não me atinja. Que me seja permitido viver bem, com(o) aqueles que merecem realmente a felicidade.

Saturday, September 13, 2008

para ti

Ela está dividida.
Sabe o que quer, sabe de que lado quer estar, mas não consegue.
Está dividida entre o quero e o fujo. O agora e o depois
Entre o longe e o perto.
Ela está dividida.
Gosta, precisa e depende do que não quer deixar de querer ter.
É um susto que enche a alma e a esmaga no fim.
É difícil, é confuso, é humano.
É sofrido.

Ela vai estar sempre dividida.

Monday, August 11, 2008

margarida

tenho uma outra vida dentro de mim
e não falo filosoficamente, falo simplesmente deste bebe que cresce dentro de mim
e a vida pulsa, cresce, ocupa-me
e eu protejo-a, alimento-a, acarinho-a
e é incrível, impressionante, de cada vez que a sinto mexer

uma filha
a minha filha margarida

Thursday, July 3, 2008

esperar

espero o resultado das análises que fiz, espero pela ecografia que só faço daqui a um mês e meio, espero pelos orçamentos da minha futura casa, espero por mais uma resposta da camara para poder começar as obras, espero pela tela da entrada, espero pelas ampliações dos caretos, espero pelo vinil do john, espero que a filipa chegue, espero sempre por ti, espero pelo sítio onde posso guardar provisoriamente as caixas da minha vida, espero por aquele telefonema, e espero por mais uma imensidão de coisas que não interessam para nada.

mas não páro, nunca mais pararei.

Friday, June 27, 2008

Vidas

No outro dia apareceu lá a Jessica em casa. A Jessica é filha da Teresa que trabalha lá em casa e vai voltar para Cabo Verde no fim do mês.
É uma daquelas crianças com um brilho inexplicável nos olhos, umas covinhas permanentes nas bochechas porque está sempre a sorrir. O Zé Maria tem menos 4 anos que a Jessica e brincam como se tivessem a mesma idade. Mérito e paciência da Jessica, não do Zé Maria. Nesse dia deixei-os de manhã em casa, a escola perdeu a graça toda, e quando fui buscar o Zé Maria à hora do almoço, a Jessica e a Teresa vieram cá fora para se despedirem.
De repente senti um "baque", era provavelmente a última vez que os dois se iam ver. Imaginei a distância que os separará a vida toda e senti uma nostalgia enorme ao relembrar as vozes e os risos deles de manhã enquanto brincavam em casa, as suas expressões quando se encontravam, a alegria que era usufruirem da companhia um do outro.
Senti tudo isto num segundo, e o meu coração ficou mais pesado.
"despeça-se da jessica" disse "nunca mais a vai ver" pensei...
Ele estava com sono e nem olhou bem para ela, com o babo espetado no nariz e a chucha enfiada na boca. Tão típico das crianças.
E eu fiquei para ali a olhar para aqueles olhos brilhantes que antes de me dizer adeus se lembraram de me dizer "falta um dia para fazer anos".

Monday, March 31, 2008

branca

branca é a pele, o cabelo naquele tom original tão característico
branca é a alma, uma alma em paz, cansada porque a vida não foi fácil mas foi cheia
brancos são os seus sonhos agora numa cama que detesta porque não é a sua cama
viver assim não interessa, viver é rir, olhar, brincar, sentir, tocar, agarrar a nossa mão
viver é pregar rasteiras às desgraças, é pensar sempre a longo prazo
brancas são aquelas mãos onde reconheço as minhas
o verniz perfeito, a pele macia, incrivelmente macia
branca é o nome da minha avó, a única que conheci crescida
a mãe do meu pai, a minha madrinha de casamento
a minha avó
que lentamente se desliga da vida
de nós, de todos os que a adoram
e somos obrigados a encarar isto com naturalidade
porque é natural
que a vida um dia, depois de 99 anos, chegue ao fim.

Monday, February 25, 2008

imprevistos

Habituei-me sempre a saber com o que conto.
Casei-me sem a menor dúvida de que ia ser para sempre. Com a consciência de que aquele amor certamente se iria transformar, mas com a certeza de que seria uma pena perder aquela sensação de paixão sempre presente num namoro relativamente curto.
O tempo demonstrou-me que viver sempre apaixonada seria um martírio. Que a estabilidade anula a paixão permanente e isso até nem é mau. Desde que continuem a existir os tais momentos. Fez-me ver também que a transformação do amor é sábia e positiva. Efectivamente nasce uma outra coisa a que se chama cumplicidade e que, se as coisas correm bem, o passar dos anos aprofunda inevitavelmente.
E assim tenho vivido. Sem tropeções, sem surpresas. Na minha convicção.
Mas de um dia para o outro alguém me fez ver que é possível descobrir o erro na fórmula.
Vejo pessoas muito próximas abaladas com decisões seguras de quem menos esperavam.
Vejo tantos casamentos a acabar no momento menos esperado. Situações que envolvem pessoas que admiro e respeito.
Será assim tão simples? Que um casamento é mais difícil do que qualquer pessoa julga, isso é verdade, mas o que pergunto é: estará a minha teoria certa? Parece-me tão natural que uma pessoa persiga paixões se o seu casamento já não é um casamento feliz. Mas o que é um casamento feliz? Alguém sabe? Se um dia não sentimos em casa devemos desistir de sentir?
E se desistimos, temos a certeza de que a pessoa que está connosco também desistiria?
É tudo muito complicado. Mas há uma coisa em que acredito e que antes não compreendia: ninguém desiste de ânimo leve, ninguém gosta que um projecto falhe. E se é levado a sério, o casamento será sempre o projecto mais importante da nossa vida.

Wednesday, January 2, 2008

a tua mãe (há um ano atrás)

há um ano começávamos um ano novo
mas o ano já se sentia velho antes de começar
um daqueles falsos começos em que não conseguimos desligar do que acabou de acabar
porque o final foi tão triste, tão sem esperança
ver os teus olhos baços era uma dor no coração
aqueles olhos sempre tão brilhantes, tão sorridentes, tão positivos

hoje falei com aquela tua outra mãe
e senti pela milésima vez que há um ano atrás via uma sombra do que se atravessava em ti
e que tento fazer agora tudo o que não consegui fazer na altura porque subestimei o teu sofrimento (sinto culpa)
e essa tua mãe, avó das tuas filhas esteve sempre ao teu lado. sempre.
e eu admiro-a intensamente por tudo o que foi para ti nesse momento e por tudo o que é agora para as tuas queridas filhas
e porque foi quem as amparou no pior momento, no pior dia das suas vidas, num dos anos mais difíceis que com certeza viveram e provavelmente viverão
porque te tratou como uma filha, esteve atenta como uma mãe
e assim percebemos que tudo isto nos faz pequenos,
percebemos que o teu gesto ultrapassou a nossa imaginação

hoje sinto um vazio imenso
porque não estás cá
não há consolo possível
não há palavra ou abraço que chegue
queria escrever um mail com o balanço das festas
(lembras-te? falávamos sempre dos dias em que não nos víamos, das famílias que não tínhamos em comum)

hoje e sempre, faltas-me tu.