Friday, June 27, 2008

Vidas

No outro dia apareceu lá a Jessica em casa. A Jessica é filha da Teresa que trabalha lá em casa e vai voltar para Cabo Verde no fim do mês.
É uma daquelas crianças com um brilho inexplicável nos olhos, umas covinhas permanentes nas bochechas porque está sempre a sorrir. O Zé Maria tem menos 4 anos que a Jessica e brincam como se tivessem a mesma idade. Mérito e paciência da Jessica, não do Zé Maria. Nesse dia deixei-os de manhã em casa, a escola perdeu a graça toda, e quando fui buscar o Zé Maria à hora do almoço, a Jessica e a Teresa vieram cá fora para se despedirem.
De repente senti um "baque", era provavelmente a última vez que os dois se iam ver. Imaginei a distância que os separará a vida toda e senti uma nostalgia enorme ao relembrar as vozes e os risos deles de manhã enquanto brincavam em casa, as suas expressões quando se encontravam, a alegria que era usufruirem da companhia um do outro.
Senti tudo isto num segundo, e o meu coração ficou mais pesado.
"despeça-se da jessica" disse "nunca mais a vai ver" pensei...
Ele estava com sono e nem olhou bem para ela, com o babo espetado no nariz e a chucha enfiada na boca. Tão típico das crianças.
E eu fiquei para ali a olhar para aqueles olhos brilhantes que antes de me dizer adeus se lembraram de me dizer "falta um dia para fazer anos".