Wednesday, May 6, 2009

para a tia (o prometido, o devido)

em junho de há um ano atrás
chego ao porto pela estação errada
um calor horrendo e a minha barriga enorme a dizer: senta-te por favor senão não aguentamos
os homens das obras assobiam, a barriga não os assusta, dá-me vontade de rir o piropo fácil do português rasca, sem charme, sem jeito, sem nada
vila nova de gaia, mas porquê? não existem táxis e o sol a bater com força na minha cabeça e por trás da barriga e da margarida o estômago a dizer: vai comer por favor, senão não aguentamos
e duas pessoas à minha frente que se atiram para dentro dos dois táxis que aparecem ao fim de meia hora, a barriga não os demove, dá-me vontade de rir a indelicadeza do português ranhoso, sem simpatia, sem respeito, sem amizade, sem nada
e no fim de tudo vou ter com a minha tia
sou mimada, sinto-me querida, e a minha barriga, a minha cabeça e a minha margarida agradecem
o porto seguro
"ó filha, a estação de gaia? mas porquê?"
e eu digo a rir: sei lá porquê, tia, porque sou parva
e jantamos divertidas, e rimo-nos com coisas tontas como duas crianças cansadas, e a noite está quente, amena, e lá vamos a pé para casa, e é tudo bom, tudo confortável
e dá-me vontade de rir de bem-estar, e sinto-me feliz por ter a amizade da minha tia, da minha querida tia tão cheia de sentido de família

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