Wednesday, July 25, 2007

elas

era assim que falavas, elas eram elas, as tuas mais queridas amigas, companheiras, um pouco de ti e do Antonio, o teu amor infantil, antigo e dorido
elas precisam, elas vão estar, vou buscar "elas", elas estão à minha espera

elas estão à minha espera, estão a rir com o riso do primo, estão a regar as plantas lá de casa, estão a pensar na tarde simples que vão passar, na noite que vão dormir, nas camas improvisadas que enchem o quarto do ZM, nos brinquedos pequeninos e divertidos, playmobil do tio zé, legos antigos
elas jogam à bola e riem, riem alto, o riso de criança feliz
elas são preciosas como é precioso cada membro que temos, elas são boas puras bonitas
"tia já me comprou o presente de anos?" perguntam-me a mim em vez de a ti (marta, isso não se pergunta, dirias) mas não estás cá para dizer, e por ti, elas já não podem esperar, de ti lembram a beleza do amor que lhes deste, talvez lembrem o teu cheiro, os teus olhos
esse teu amor que faz parte delas, do que elas são
a ana olha para o céu e diz a um tio muito querido: tio, está ali a minha mãe, é aquela estrela, a mais brilhante de todas, e está a olhar por nós
tenho que ir, tenho que as abraçar como se fosses tu que chegasses, e fazê-las rir
espero chegar sempre.

Wednesday, July 18, 2007

Leonor

Lembro-me de uma troca de emails acerca da Madalena quando ela ainda estava na tua barriga. Uma troca de emails que nos aproximou depois da primeira, única e eespero última briga que alguma vez tive com uma grande amiga. Eu tentei consolar-te. Tu estavas assustada com a notícia.

Contigo foi sempre assim, os teus dois mais preciosos tesouros apanharam-te de surpresa. Dizem que as melhores coisas na vida acontecem quando menos esperamos. Tu, os teus filhos, são prova disso. Passaram-se já cinco anos. E a Madalena cresceu com um equilíbrio extraordinario, e tu cresceste com ela. Tornaste-te ainda melhor, ainda maior, ainda mais forte. A tua amizade é incondicional, total, dedicada. A lealdade é para ti um princípio de vida. Lealdade sempre com um enorme sentido de justiça por trás. Por isso és Grande. E eu adoro-te todos os dias. Preciso de ti todos os dias. Fazes parte da minha história, da minha vida..

Parabéns pela Madalena. Obrigada por tudo (e tu sabes o que "tudo" significa).
Vamos estar sempre juntas.

Monday, July 16, 2007

erguer

É preciso saber erguer os braços e arrancar a nuvem que se atravessa e entra pela nossa cabeça.
É preciso ter força para dizer não, não me vou deixar controlar por uma tristeza que me mata e que mata todos os dias os que me rodeiam.
É preciso acordar e conseguir não esboçar um sorriso mas em vez disso soltar uma gargalhada barulhenta, acordar os vizinhos, o marido, o cão e o filho e saber gritar, "a vida pode ser boa". A vida pode ser boa? Que bom saber que há pessoas para quem a vida é boa.
O meu filho é feliz, ele diz a toda a gente que é feliz. Para ele é tão simples ser feliz.
Tenho inveja daquela felicidade, tenho inveja do tempo de há um ano atrás, um tempo ingénuo, um tempo sem brutalidades, sem descobertas feias, sem encontros "sangrentos".
E no meio disto tudo, destes turbilhões, destas desilusões com pessoas que fingem que são o que esperam que os outros encontrem nelas, no meio disto tudo, o meu coração enche-se de esperança, força e até mesmo alegria, naquele pequeno momento em que oiço o meu filho dizer que é feliz.

Monday, July 9, 2007

john

when I first saw maria, I knew she was the girl of my dreams

perdemos-te depois de tão breve e tão profunda passagem pelas nossas vidas. perdemos-te já sem forças para perder o que quer que fosse, já sem força para te chorar com todas as forças que merecias. perdemos-te sem ninguém nos perguntar se podia ser, se abdicávamos de ti. NÃO, NÃO ABDICAMOS, apetece-me dizer. NÃO, PRECISAMOS DA TUA VIDA. precisamos dos teus abraços, da tua presença tão física, dos teus olhos transparente e bons que acreditavam que tudo ia ficar "allright". até quando?
precisamos da tua vida, repito baixinho.
adormeceste nos braços da mulher que amavas. acredito que não sofreste a antecipação da desgraça que vinha a seguir. imaginar a maria sem ti era estupido. a maria és tu. tu és a maria.
mas ninguém nos ouviu, e tu que eras vida partiste. e deixaste-nos vazios, com um buraco que ocupa o nosso corpo por inteiro. tu que eras alegria levaste a nossa contigo.
até quando?

Monday, July 2, 2007

escada sem corrimão

Há quem fique a meio da escada. Pergunto-te - o que está no fim? Caminhamos para o sol, mas nunca passamos do chão.
A escada parece curta para uns. Mas enganam-se. A escada é grande, difícil mas pode ser muito feliz. Chega mesmo a rir-se connosco. A rir-se dos nossos tropeções. Dos nossos desenganos. Das nossas pequenas vitórias tão relativas. Pergunto-te - a escada também chora? Chora quando desistimos. Chora quando em vez de subirmos, descemos.
A escada não tem corrimão para aprendermos que não é fácil. E às vezes temos que segurar nos outros, os que precisam de apoio para subir. Os mais fracos atraiçoados pela falta de vontade, os mais velhos atraiçoados pela idade que lhes dificulta todos os movimentos. Pergunto-te - a escada é de que cor? A escada é amarela para os que a sobem a correr. Azul para os que a sobem com serenidade. Pode ser encarnada para os que a sobem com paixão. Chega a ser preta para os que a sobem tristes e sombrios. É certamente branca para os que levam um encontrão, se desequilibram, e sem vontade, sem necessidade, caem cedo demais.
A escada é boa. Os seus degraus é que às vezes são difíceis.